Estava triste, desmotivado. Sua mulher havia deixado de
amá-lo. Levantou da cama e vestiu-se naquela manhã de domingo. Sem nada para
fazer, saiu de casa e andou sem rumo. Até aquele dia, nunca tinha reparado como
era penoso viver sem amor. Depois de andar durante horas, sentou-se à sombra de
uma árvore frondosa no banco de uma praça, de cabeça baixa. Ao seu lado,
sentou-se um homem que, pelo seu aspecto, pareceu-lhe um mendigo.
Quase se levantou para seguir o seu caminho, mas o
sorriso do homem o reteve. Aos poucos, se estabeleceu um diálogo e uma animada
conversa que se estendeu por horas. Finalmente, o marido se levantou do banco,
deixando dinheiro na mão do mendigo.
Sua postura já estava diferente. Agora, com passo
enérgico, voltou para casa, tomou banho, fez a barba e se vestiu com todo
cuidado. Saiu sem dar explicações e sua mulher, que já não o amava, se mostrou
levemente curiosa com a sua nova atitude. Voltou à noite, bem tarde. No dia
seguinte, cumprimentou gentilmente sua mulher e foi trabalhar. Na volta, vestiu
um short, calçou tênis e fez uma longa caminhada noturna. Dormiu com excelente disposição. O dia
seguinte foi igual, talvez melhor.
Sua mulher, que
não o amava, e seus filhos se surpreenderam. Parecia ter perdido a tristeza. Ganhara
uma força e uma elegância que a família nunca antes tinha notado. Continuou a
ser gentil com a mulher, mas nunca mais lhe pediu desculpas ou explicações. A
atitude do marido continuava firme e a disposição otimista instalou-se de vez. A
mulher sentia-se cada vez mais intrigada com a mudança miraculosa do marido e
teve mais simpatia por suas novas atitudes, sábias e moderadas. Embora ela
persistisse em não amá-lo, ele melhorava seu desempenho como pessoa e como pai.
Agora, os amigos o procuravam. Era evidente que tinha se transformado num homem
sábio.
Quanto a mim, sou
um sujeito profundamente curioso, talvez por ser escritor e fui à mesma praça
onde estivera o marido a fim de procurar o mendigo. Pude reconhecê-lo
imediatamente. Sem vacilar, sentei-me a seu lado.
Apresentei-me e
perguntei o que ele tinha dito para o marido. Sorrindo, o mendigo me respondeu:
“Ah, lembro… Não dei grande conselho. Disse-lhe apenas que, com minha
experiência de mendigo, aprendi que nunca se deve pedir dinheiro e, pelas
mesmas razões, jamais se deve suplicar amor.
“Essas são duas coisas que sempre
nos negam quando as pedimos”. E sorrindo, acrescentou: “O dinheiro, a
gente ganha; o amor se conquista”.
Per gratiam tuam, Domine
“O dinheiro, a gente ganha; o amor se conquista”.
ResponderExcluirPura verdade